NOS
TRAÇOS DA MEMÓRIA: A GRUTA DE LOURDES DA BETÂNIA EM LAGOA DO PIAUÍ E A
CONSTRUÇÃO DA SUA IDENTIDADE RELIGIOSA.
Samila
Sousa Catarino( Universidade Estadual do Piauí)
Marcos
Fernandes Lima² (Universidade Estadual do Piauí)
RESUMO:
O
presente artigo busca discutir a Gruta de Lourdes da Betânia em Lagoa do Piauí como
um local de memória religiosa. A grande peregrinação que atrai todos os anos
milhares de fiéis para veneração a santa Nossa Senhora de Lourdes nos ajudam a
perceber a importância da memória individual e coletiva para a construção da
identidade local. Para compreendermos este universo religioso partiremos em
busca dos “escombros
das memórias”.A cada ano mais
pessoas vão a Gruta, em especial no dia 11 de Fevereiro data na qual é
comemorado a aparição da Santa e a edificação da Gruta. A pesquisa insere-se no
estudo da história regional, visando contribuir com produções no âmbito da
História das Religiosidades Populares, além de percebemos os avanços relativos à
história cultural, especialmente no tocante a historiografia piauiense. A fim
de compreendermos a construção da identidade religiosa iremos analisar algumas
práticas devocionais que ocorrem na Gruta como: peregrinações, práticas
ex-votivas e pagamento de promessas, essas relações de troca, que acontece
entre o fiel e Nossa Senhora fazem parte da identidade local. A construção
identitária da Gruta a partir das memórias nos possibilitará a ampliação do
leque de possibilidades de estudos sobre religiosidade popular do Estado.
Palavra Chaves: Gruta de Lourdes. Ex- Votos. Religiosidade
Popular. Memória. Identidade Religiosa.
ABSTRATC:
Word Keys: Grotto
of Lourdes. Former - Votes. Popular religiosity. Memory. Religious identity.
REFLEXÕES SOBRE A MEMÓRIA DA GRUTA DE LOURDES DA BETÂNIA.
É valido ressaltarmos o
crescimento de produções acadêmicas que venham discutir e analisar a memória de
grupos sociais. Essas memórias sejam elas individuais e/ou
coletivas nos ajudam a compreender a consolidação destes grupos sociais através
da construção da identidade.
Ao longo dos anos o que
se percebe é uma ressignificação no estudo da memória. Porém o que podemos
conceituar como memória? Qual a importância da memória para a compreensão de
uma nação? Como os grupos identitários se legitimam através da memória? Este
artigo propõe fazer algumas discussões e reflexões sobre a memória, tomando
como objeto de análise a Gruta de Lourdes da Betânia em Lagoa do Piauí e a
partir dessas análises, perceber a construção da identidade religiosa da
cidade.
A Gruta de Lourdes da
Betânia foi edificada no dia 11 de Fevereiro de 1948 na cidade de Lagoa do
Piauí que fica a 50 km da Capital Teresina, esta foi construída após uma
promessa feita por Maria Carmeli dos Santos Noronha, para Imaculada Conceição
(Nossa Senhora de Lourdes). Este santuário está ganhando cada vez mais
importância no aspecto religioso do Piauí, esse lugar de memória passa a se
afirmar e reafirmar através das ações dos devotos e romeiros.
Após a construção da
Gruta na cidade percebe-se que há 65 anos as pessoas fazem peregrinação a este
local “sagrado”, e que com o passar dos anos o número de devotos é cada vez
maior, principalmente na data de 11 de Fevereiro na qual é
comemorado o dia de Nossa Senhora de Lourdes e a data da construção da Gruta.
Este espaço se constitui como um local de memória e história, a partir dos
estudos verificou-se o fortalecimento das práticas religiosas populares no
Piauí, como a construção de uma identidade religiosa singular e própria na
região.
No que concerne ao
estudo da memória à história enquanto disciplina, passou a “mergulhar” nas definições,
nas problemáticas do que se pensa sobre memória. Os historiadores como: Le Goff,
Marc Bloch, Pierre Nora, Halbwachs (sociólogo) entre vários outros, procuram
desvendar os “segredos da memória” no seu sentido mais amplo, buscando
caracterizá-la
nos aspectos teóricos e metodológicos, funcionando assim como suporte para a
compreensão dos fatos históricos. Para Revel o historiador é um
dos mais preocupados em analises da memória:
[...] se há uma disciplina em que
esta preocupação com a memória tornou-se evidente, até tornar-se às vezes
obsessiva há uma geração, é a história, tanto por meio de programas de pesquisa
empíricos quanto na reivindicação de um “dever de memória”, que se tornou um
tema constante em nossas sociedades e que não deixou de afetar também os
historiadores profissionais.
A maioria dos
profissionais buscou incessantemente esse conhecer a memória, ainda hoje se
veem discípulos e discípulas daqueles que passaram a tratar a memória como
objeto de estudo para compreensão da sociedade. Peter Burker alerta para os perigos da memória.“ As memórias são maleáveis, e é necessário
compreender como são concretizadas, e por quem, assim como os limites dessa
maleabilidade.” (BURKER, 1937, p. 73.)
Com isso é necessário um cuidado do
historiador, sendo que é preciso tentar se esquivar das armadilhas da memória.
Através de um rigor teórico e metodológico é preciso compreender os grupos
sociais nas quais estão sendo construídas e reconstruídas essas memórias.
O próprio conceito de
memória é algo difícil de definir apesar de todas as particularidades em sua
definição nas diferentes ciências, todos concordam que a memória é a capacidade
de lembrar, isso levando em consideração a subjetividade do ser humano. A memória
é construída no âmbito social, como afirma Halbwachs: “[...] em todos esses
momentos, em todas essas circunstâncias, não posso dizer que estivesse sozinho,
que estivesse refletindo sozinho, pois em pensamento eu me situava neste ou
naquele grupo [...].”
A memória só ganha “corpo” quando ela está inserida em um grupo social,
primeiro porque é no grupo social que essa memória passa a ser legitimada e em
segundo lugar por mais individual que uma memória aparenta ser esta foi construída enquanto participante
de um grupo social (no âmbito familiar, na escola, na rua, na igreja e etc).
Tomando por base todas
essas analises e reflexões defino a memória como: a capacidade de lembrar-se de
fatos ou fragmentos de acontecimentos que de certa forma foram significativos
para a que os mantivesse guardados, que através de ações cerebrais podem ser
acessados de forma espontânea (quando algum lugar ou objeto me faz lembrar), ou
de forma induzida que é quando eu procuro me induzir a recordar tal
acontecimento. Esse ganha legitimidade no grupo social em que eu estou
inserido.
A partir dessas
definições de memória procurou-se analisar a importância da memória individual
e coletiva da Gruta de Lourdes da Betânia e como essas ajudam a construir uma
identidade social-religiosa do santuário. Através das entrevistas foi possível
identificar a importância da memória para a continuidade da tradição de devoção
que ocorre na Gruta de Lourdes. É uma memória que perpassa os anos, sendo
passada de pai para filho que acabam por ajudar na consolidação desse “lugar de
memória”. A senhora Antônia Pereira de Carvalho relatou-nos há quanto tempo
visita a Gruta. “Eu visito a mais de vinte anos. Minha mãe vinha à Gruta, meu
primo.”
Assim como a senhora Antônia várias pessoas relataram que passaram a vir a
Gruta de Lourdes da Betânia com familiares, principalmente com a mãe. Esses
relatos individuais acabam por construir a memória coletiva do santuário. Isso
porque essas memórias apresentam características em comum como a citada
anteriormente.
A noção de se pensar a
memória presente na Gruta de Lourdes nos ajudam a mergulhar nesse universo
subjetivo de cada indivíduo. Para Halbwachs
[...] a memória coletiva tira sua
força e duração por ter como base um conjunto de pessoas, são indivíduos que se
lembram, enquanto integrantes do grupo. Desta massa de lembranças comuns, umas
apoiadas nas outras, não são as mesmas que aparecerão com maior intensidade a
cada um deles. De bom grado, diríamos que cada memória individual é um ponto de
vista sobre a memória coletiva, que este ponto de vista muda segundo o lugar
que ali ocupo e que esse mesmo lugar muda segundo as relações que mantenho com
os outros ambientes.
Para a compreensão da “realidade”
dos devotos de Nossa Senhora de Lourdes partirmos do pressuposto de que a
memória pode ser exemplificada através da equação:
Memória
individual + Memória coletiva = Identidade
|
Compreendemos que na
memória coletiva, além de ser o acúmulo de suas memórias individuais, há
também outros discursos que interferem na construção dessa memória, como
influência do Estado, das Religiões, dos Códigos de Morais e Posturas e etc. Como
Halbwachs afirmou as memórias se apoiam uma nas outras e no espaço coletivo
ganham sua legitimidade, assim podemos dizer da memória coletiva da Gruta de
Lourdes da Betânia, essas memórias individuais de devotos que relatam sobre
suas experiências de fé, de peregrinação, de graças alcançadas por intermédio
de Nossa Senhora de Lourdes acabam por ganhar mais significado quando eles se
encontram na Gruta que além de ser um espaço sagrado é um espaço de transmissão
de memória e sociabilidade.
Essa simples equação
nos ajuda a perceber como funciona a construção dessa identidade religiosa, de
um santuário que está a cada dia se tornando um dos mais significativos do
Piauí assim como em Santa Cruz dos Milagres.
Mas qual a importância
da memória para uma nação? Bem de fato a memória ajuda na contribuição para a construção de uma
identidade nacional, a própria seleção do que se torna uma memória nacional é
bastante influenciada pelo Estado. E isso muitas vezes se torna perigoso, pois,
na maioria das vezes o que se é lembrado pela grande maioria pode não fazer
parte do reconhecimento identitário, podemos dizer: eu posso lembrar-me de
acontecimentos que para mim não são tão significativos, porém com as pressões
externas, seja do poder nacional, ou da mídia, essas lembranças, essas memórias
passam a ser minha por uma imposição. Com isso podemos analisar a memória como
um local de disputas, de poder. E por ser uma relação de poder ela pode ser manipulável, para Le Goff:
Tornar-se senhores da memória e
do esquecimento é uma das grandes preocupações das classes, dos grupos, dos
indivíduos que dominaram e dominam as sociedades históricas. Os esquecimentos e
os silêncios da história são revelados destes mecanismos de manipulação da
memória coletiva. O estudo da memória social é um dos meios fundamentais de
abordar os problemas do tempo e da história, relativamente aos quais a memória
está ora em retraimento, ora em transbordamento.
Essa manipulação da
memória coletiva faz com que esses grupos fortaleçam as suas relações de
disputas e poder, sendo a memória esse principal mecanismo. A memória que deve
ser lembrada é a memória da nação soberana. Um exemplo claro vem a ser o
atentado que aconteceu as Torres Gêmeas de World Trade Center em 2001 nos
Estados Unidos, depois desse atentado, os estadunidenses passaram a ser cada
vez mais memorialistas, construíram memoriais as pessoas que foram mortas e
essa memória de certa forma se sobressai a memórias de outra nações, tendo em
vista que quando se pensa no ano de 2001 especificamente no mês de setembro, se
lembra do atentado, se pensa nos Estados Unidos, se lembra da cassada ao possível “terrorista” Osama Bin
Laden. A memória, ela se sobrepõe sobre outra, ela
assume um status de poder, do que deve ou não ser lembrado.
Essa
sobreposição da memória é legitimada através dos arquivos que funcionam muitas
vezes como guardiões da memória de uma nação. Para Knauss “como em outros
lugares de memória, os arquivos são uma construção das formas contemporânea de
promoção da memória, registro de que nós vivemos em outro tempo distinto de
anteriores.”
(KNAUSS, 2009.).
Porém não devemos tomar
tais arquivos como verdade absoluta, pois esses documentos são sujeitos às
falhas e ainda mais a falsificações. Nisso lembro-me de um exemplo bastante
esclarecedor no livro de Terence Ranger e Eric Hobsbawm em sua obra: A Invenção
das Tradições. Ao longo do segundo capítulo o autor Trevor Hoper faz uma
reflexão sobre a utilização dos Kilts,
o fato é que durante essa análise de quando começou a usar os kilts e outras
vestimentas tipicamente escocesas como o tartan, aparecem pessoas com alguns documentos para
comprovar suas versões sobre essas vestimentas, porém descobre-se que esses
documentos são uma fraude, os responsáveis por essa invenção da tradição das
Altas Montnhas era James Macpherson e os irmãos Stuarts que criaram histórias
fantasiosas e o autor conclui com o seguinte pensamento:
Este artigo começou com uma
referência a James Macpherson. Termina com os Sobieski Stuarts. Existem várias
semelhanças entre estes inventores das tradições montanhesas. Ambos idealizaram
uma Idade de Ouro no passado das Terras Altas célticas. Ambos declararam que
possuíam provas documentais. Ambos criaram fantasmas literários, forjaram
textos e falsificaram a história para sustentarem suas ideias. [...]
Neste exemplo
visualizamos mais uma vez essa sobreposição da memória por conta de discursos,
documentos que muitas vezes são falsificadas, da própria
memória fantasiosa de várias pessoas. Como muitas vezes os historiadores
legitimam seus discursos através dos documentos, se deve verificar se tais
documentos são verídicos para que não possamos reproduzir uma história fantasiosa.
Nesse período na qual Hoper relata vários estudiosos da época foram enganados.
LEGITIMAÇÃO DA IDENTIDADE ATRAVÉS DA MEMÓRIA
Como os grupos
identitários se legitimam através da memória? Os grupos que participam das
manifestações religiosas da Gruta de Lourdes da Betânia conseguem se afirmar e
reafirma através de suas práticas religiosas, que muitas vezem assumem
características singulares a outros locais religiosos. A Gruta de Lourdes é um
local de passagem de vários motoristas e viajantes, isso por encontrar-se as
margens da BR-316, muitos motoristas e viajantes acabaram por se tornarem
devotos, muitos fazem promessas e atingem sua graça, com isso eles prometem
pararem toda vez que passarem na frente da Gruta, nas margens da BR. Isso é uma
característica bastante específica da Gruta de Lourdes da Betânia.
Outra particularidade
do santuário vem a ser a questão do que é colocado como ex- votos. Sabe-se que
a prática de ex-votos (objetos- testemunhos) é uma prática bastante comum,
especialmente na região do Nordeste. Esses objetos são oferecidos muitas vezes
quando o devoto está passando por algum momento de dificuldade, tentando
superar esse momento difícil o devoto se apega a Nossa Senhora de Lourdes, a
fim de conseguir superar tal dificuldade. Na Gruta de Lourdes muitos objetos
são depositados como: fios de cabelo, roupas sujas de sangue, esboço feitos de
madeira de braços, pernas, cabeças e etc. Esses objetos se aglomeram na Sala de
Milagres, no dia 10 de Fevereiro um dia antes da grande Missa, ocorre uma
corrida de cavalos, uma vaquejada que é promovida pela família da senhora que
edificou a Gruta. Depois da Vaquejada é possível perceber na Sala de Milagres
ex-votos de troféus dessas vaquejadas, muitos desses vaqueiros passaram a se
apegar a Nossa Senhora de Lourdes para conseguirem êxito durante as disputas.
É interessante
observarmos que esses objetos os chamados ex-votos que são expostos nas salas
de milagres são uma forma de materialização da fé, é um testemunho de que
alguém conseguiu alguma graça de um determinado santo (a), que nesse caso é
Nossa Senhora de Lourdes. Para Filho (2006) “[...] a relação da promessa está
firmada no plano material, das coisas, os motivo que fazem existir, não seria
estranho às práticas de pagamento acontecer também, nesse plano”.
Apesar dessa noção de superioridade da Santa essa forma de pagamento acontece
de maneira espiritual através de orações e rezas, mas também de forma social,
humana, que é a confecção e colocação desses objetos- testemunhos (ex-votos),
ricos em simbologias.
Outras práticas ajudam
a legitimar esses vários grupos que participam da Gruta de Lourdes, como as
várias famílias que se deslocam de outras cidades circunvizinhas como Monsenhor
Gil e Lagoa do Piauí para irem a Gruta a pé, pagando promessas,
são dezenas de pessoas, senhoras, crianças, grupos e mais grupos que se reúnem
a fim de um único propósito: venerar Virgem Maria Nossa Senhora
de Lourdes. Outros grupos vêm de excursões, especialmente no dia 11 de
Fevereiros, pessoas se deslocam de suas casas e vão com outros romeiros para a
Gruta, além dos milhares de carros de passeios que também vão para Betânia.
Todas essas práticas citadas anteriormente vão
ajudar na construção indentitária do que vem a ser a Gruta de
Lourdes da Betânia, entendemos aqui que o próprio conceito de identidade é algo
complexo e sem uma definição única. Isso porque acreditamos que as mais
diversas identidades estão entrando em convulsões e colapsos, não se sabe mais
o que é identidade, não se reconhece mais a sua identidade, e isso é sério e
grave. A pós-modernidade nos mostra essa fragilidade das identidades e ao mesmo
tempo nos chama a atenção para a reflexão sobre esses riscos.
A discussão sobre as
identidades é algo bastante complexo, para Hall “A ideia de que as identidades
eram plenamente unificadas e coerentes e que agora se tornaram totalmente
deslocadas é uma forma altamente simplista de contar a história do sujeito
moderno.” É
importante se analisar que a própria concepção de homem ao longo dos períodos
históricos foi mudando, e isso consequentemente gera uma nova concepção desse
homem, que nesse momento atual está sendo visto como o homem moderno, o homem
que muitas vezes vive no mundo das incertezas e que detém de várias identidades
em um único ser.
Nesses vários grupos que visitam a Gruta de Lourdes da Betânia se
constitui a identidade religiosa desse local. E é através dessa identidade que
uma nação se reconhece. As práticas culturais muitas vezes funcionam como uma
extensão da realidade dos grupos que participam dessas manifestações. Nesse
sentido Leite e Martins fazem a seguinte análise:
A
manifestação cultural do grupo religioso passa a ser interpretada como um
protesto simbólico, que muitas vezes não é visível, mas trata-se de estratégias
de sobrevivência que as classes populares adotam dentro de uma sociedade que lhes nega oportunidades de trabalho e seus
direitos legítimos mais básicos.
A religiosidade
popular funciona muitas vezes como uma válvula de escape para os problemas
diários, e é na fé que as pessoas procuram a solução de seus problemas. Isso é
bastante perceptível na Gruta de Lourdes principalmente com as observações
etnográficas e quando observamos o tipo de ex-votos que são colocados na Sala
de Milagres. Muitas pessoas simples e humildes vão pedir pela cura de alguma
doença, isso porque a medicina já não oferece mais esperanças de cura. Outras
pessoas pedem por conseguirem uma casa, como se sabe o sonho da casa própria é
algo desejado por muitos, e é um sonho não tão simples de ser realizado, apesar
dos programas do Governo como Minha Casa Minha Vida, vemos que a grande parte
da população que de fato precisa não é atendida, e muitas vezes esses programas
são fraudulentos por conta dos acordos políticos feito durante o período
eleitoral. Essas pessoas encontram em Nossa Senhora de Lourdes na Gruta da
Betânia um refúgio, através da fé, e essas práticas citadas anteriormente vão tecendo
a identidade religiosa estabelecida nesse lócus de religiosidade popular. Como
Hall fala “as identidades nacionais não são coisas com as quais nós nascemos,
mas são formadas e transformadas no interior da representação.” ( HALL.2011. p. 49) Eu tomo essa
citação minimizando ainda mais a análise, de que não só as identidades
nacionais, mas cito aqui especificamente as identidades locais, que se constrói
e (re) constrói a partir da ação desses agente sociais de vários grupos, e na
Gruta vemos essa heterogeneidade de grupos como: os motoristas, os idosos, os
vaqueiros e vários outros, que juntos formam e transforma as identidades do
santuário de Betânia.
CONCLUSÃO
O presente artigo buscou fazer uma
sucinta discussão sobre a memória e identidade religiosa que se constitui na
Gruta de Lourdes da Betânia. Sucinta porque acreditamos essa temática ser
bastante riquíssima e com várias sugestões de leituras e reflexões que o tempo
não nos possibilitou realizar. Porém trouxemos o nosso ponto de vista sobre a
temática, que ainda está em voga na acadêmica e atrai cada vez mais
historiadores. No entanto advertimos pra os abismos e perigos da memória e que
o próprio conceito de memória já se torna uma problemática que os vários
pesquisadores não entram em consenso.
Assim como a memória se constituí uma
problemática e assume uma relação de poder, também verificamos a complexidade
ao analisar a identidade, procurou-se fazer um mapeamento para não definir, mas
para se posicionar diante das diversas identidades presentes na Gruta de
Lourdes da Betânia, a fim de perceber como esses grupos sociais constituem a identidade religiosa do
Santuário de Betânia. Para que fosse possível perceber essa construção, nos
atentamos as análises das práticas devocionais na Gruta de Lourdes, foram essas
práticas que nos possibilitaram traçar esse panorama de como se (re)constrói a
Gruta de Lourdes da Betânia.
REFERÊNCIAS